Tempestade Nebulosa
Um lobo comum entre muitos, mas este possuía um coração bom e menos selvagem e sangrento que outros de sua raça, e passava seus dias sobrevivendo de pequenos mamíferos e ajudando outros maiores e alguns de menor porte inclusive, a floresta possuía vários perigos e armadilhas, tanto na natureza como na língua e nas cabeças de alguns outros seres que viviam por ali no mesmo habitat, entre criaturas boas e ruins, a maioria eram de bom coração, e mesmo entre estas, aconteciam coisas que se podia no mínimo esperar dos que possuíam um coração mais inflexível e menos sensível. Uma vez, tentando ajudar uma lontra a construir um ninho perto d um lago pequeno escondido no bosque, o lobo precisava fazer muitas viagens a buscar gravetos, enquanto a lontra e seu parceiro ajeitavam o ninho e seu arredor, dando mais segurança ao local e garantido que ninguém iria encontrar o ninho além do amigo lobo que os ajudara então...
Entre idas e vindas, havia uma barragem imensa na cruzada do lobo feita por humanos a poucos anos atrás (sem motivo aparente para os moradores da floresta, mas era bom porque a própria natureza se aproximou devido a humanidade existente próxima a ela os beneficiando de alguma forma hoje, já que no passado...), que sempre na correria, o lobo, ou tropeçava ou pisava por cima de uns galhos no meio desta barragem, sem se dar por conta, o galho fazia mexer pequenas pedrinhas e terra no interior da mesma, havia uma falha na construção da barragem, e só precisava de algumas pancadas fortes no galho preso a ela para que não demorasse a surgir mínimas fendas e uma umidade crescente no local. O ninho dos amigos lontras estava já pronto, todos estavam felizes, porém alguns residentes da floresta que conheciam melhor os segredos da mesma, entre eles uma coruja e um servo no fim de seus dias, ambos observavam o que o lobo tava a fazer a ajudar o casal de ariranhas que a muito tempo foram provadas de voltar ao rio existente antes da construção desta barragem, e tanto a coruja como o servo, percebiam algo de errado naquele lado do “grande monte”, assim os animais chamavam a barragem, que acumulava um imenso montante de água advindo das chuvas. Passou dois dias, para que a fissura se tornasse um perigo eminente, a coruja foi a primeira a informar aos moradores mais distantes voando com rapidez enquanto o servo avisa do risco para os que iriam serem afetados primeiro pelas águas, isso também incluía o casal de ariranhas que estavam felizes e em segurança com seu ninho feito com carinho e todo cuidado, e com bom material recolhido pelo amigo lobo.
O lobo encontrava-se distante, nas fronteiras da floresta procurando caça e diversão, havia campo aberto e lá se sentia livre sob aquele céu azul. Passando algumas horas, a noticia se espalhou como uma pavio de pólvora entre a fauna local, o lobo de longe percebeu a agitação na floresta, e sentiu que precisa voltar e ver o que tava a acontecer. Durante o caminho muitos o olhavam virado, não diziam nada, outros sem saber direito a causa do perigo ter surgido, o tratavam normalmente, se importando somente em sobreviverem. O lobo encontrou mais adiante com o servo, que apenas lhe disse olhando em seus olhos: “Tens um bom coração, mas também por causa dele e por seus defeitos, certas coisas acabam a tomar proporções que só se pode aceitar. Aprenda com vossos erros e corra muito meu jovem caçador, porque o grande monte irá cuspir a sua fúria e poucos de nós sobreviverá se formos pegos por suas águas!” O lobo calado ficou confuso, o servo correu a orientar outros seres perdidos na floresta, indo até o grande monte, com água até metade de suas patas, o lobo encontrou a causa do perigo, o galho que havia se batido algumas vezes na correria de ajudar as lontras, era ele, mas se não fosse por ele ter mexido no galho, não teria causado tanto problema ao expor seus amigos a própria sorte na busca de manterem-se vivos destas águas que em pouco tempo desaguariam com tamanha força que nada a impediria de colocar todo aquele local sob seus domínios.
A coruja vendo ao longe o lobo parado vendo aquela água toda saindo por um buraco acima do galho, percebe sua aflição e sentimento do que causará, saindo de uma copa alta planando até outro galho de árvore mais rende ao chão e perto do lobo, a coruja tenta reconfortá-lo, e ele a percebe pousando e presta atenção em suas palavras ao mesmo tempo que não tira os olhos daquela água que esguichava daquela terra toda: “Somos o que somos, se de nós queremos apenas a felicidade de uns, também de nós podemos causar grandes estragos sem nos dar-nos conta. Você não falhou no que se propôs amigo lobo, muitos o querem bem nesta floresta, outros não, e mesmo esta catástrofe que virá que nem você e nem ninguém terá como impedir, quem lhe conhece e conhece esta nossa vida, sabes que não foi sua culpa chegarmos a este ponto de sairmos de nossos lares para sobreviver, mas sim é culpa das circunstâncias, dos que tiveram a idéia de colocaram este grande monte aqui, e daqueles que o construíram, porque não pense que este é o único local que havia falha, já houveram outros antes, porém todos foram corrigidos com nossos esforços a tempo, este no entanto, já começou com força e nada podemos fazer em tão pouco tempo. Agora... Ousa com sua audição apurada o som da corrente da água aumentando dentro daquele buraco ali (as corujas também possuem uma audição excelente e apurada por natureza, o que lhes permite caçar em total silencio na penumbra da noite sem ver a localização exata de suas vítimas), ta ouvindo? Tá na hora de sairmos daqui, em instantes, só mais um pouco de força será o suficiente para este grande monte sucumbir bem aqui diante de nós! E não é bom que lobos virem peixes certo? Então mova suas patas para longe amigo lobo!! Corra como nunca correu antes!!” A coruja voa sobre as árvores em direção onde todos os outros também estavam a ir, o lobo corre como nunca, e antes de se afastar do grande monte, ouve um estralo forte vindo dele, ele olha para trás, e não gosta do que viu (a água quadriplicou de vazão), a área já tava coberta por uma fina camada d’água, com dificuldades e várias quedas pelo percursos de buracos e tropeços entre raízes e galhos no chão cobertos pela água, o lobo ofegante parecia possuir asas e ganhava velocidade a cada salto que dava para diminuir suas quedas, a coruja em seu vôo via como o lobo fugia com determinação e muita agilidade, e também via o que tava se aproximando dele, a taipa da barragem caiu, o som era assustador, arvores com pouca resistência deitadas pela água, uma limpeza tava sendo feita na floresta, porém aquele espaço apreciado por muitos iria mudar a parti daquele dia, e o lobo era o último a abandonar a floresta, e corria para manter sua sobrevivência como os outros já haviam feito horas antes.
Com muito sacrifico no fim de suas forças, ele chega na elevação onde todos os outros estavam em segurança, mas junto com o lobo que não tinha intenção de olhar para trás , chegou a fúria da água, a elevação era feito por imensas rochas e após dela só terra, vários animais tiveram dificuldades de subir, o lobo não foi diferente, mas sua astucia e instinto o fizeram superar e escapar de ser pego pela fúria das águas que o alcançavam, dando no momento do impacto contra o rochedo, um banho nos animais que se encontravam a beira, querendo não perder nada daquele dia. Sobreviver não era mais o problema, mas o início de um ainda maior, de se entender com seus antigos amigos e vizinhos... Todos o olhavam de maneira a culpá-lo pelo ocorrido, por um momento sentiu-se pequeno, do tamanho de uma largada de tronco podre, mas lembrou-se do que o servo e a coruja lhe disseram “Tens um bom coração......Aprenda com vossos erros”, “Somos o que somos, se de nós queremos apenas a felicidade de uns, também de nós podemos causar grandes estragos sem nos dar-nos conta. Você não falhou no que se propôs amigo lobo, muitos o querem bem nesta floresta, outros não, .... quem lhe conhece e conhece esta nossa vida, sabes que não foi sua culpa...”. Então ele levantou a cabeça, respirou fundo, e com um olhar confiante disse a todos:
- Me julguem por ser injusto, me castiguem se errei com vocês, me reprimam e ignorem-me se falhei com minha amizade diante a alguns, mas se tenho culpa por tentar ser bom e ajudar a trazer felicidade para meus amigos, se errei por ser eu mesmo e não estar a altura do que gostariam que eu fosse, então digo que sou culpado sim! E sou culpado, é porque devo mudar o meu modo de ser, serei como os outros lobos da minha espécie, porque não tenho como mudar algumas coisas em mim, ou é tudo ou nada! Todos nós falhamos, erramos até com nós mesmos, mas hoje vi que mesmo criando uma situação onde todos nós corremos risco de vida e perdemos nossos lares, ainda tenho amigos que me fizeram enxergar coisas que até então não tinha escutado de nenhum de vocês! Rasquem minha carne com vossos bicos e chifres, dentes e garras, me deixem a morrer de fome sob o sol preso em jaulas como os humanos fazem conosco quanto vêem aqui, me façam pagar por toda esta destruição e sofrimento que estou a lhes causar, mas só peço que não me culpem por tentar evoluir para um ser melhor do que seria se não fosse viver estas experiências únicas com vocês! Estive aqui nos tempos que todos temíamos a chegada do grande monte, eu era pequeno e minha alcatéia viajou para longe, eu escolhi ficar. E o que transcorreu de lá para cá, todos vocês já devem saber, mas se me olham desse modo, a me sacrificarem, alguns sequer me conhecem, só pelo fato de conversarmos por alguns meses no dia-a-dia, acham que podem conhecer o que sou realmente por dentro, pois bem, este tem permissão de me julgarem como quiserem, porém, sugiro que ousam os mais antigos por gentileza; e aos que me conhecem de verdade, gostaria que fossem sinceros em vossos julgamentos, pois estou aqui, não ante de possíveis vítimas de meu apetite natural, mas estou sim na presença de meus amigos, da família que escolhi permanecer ao invés de estar com os do meu sangue! Estou apenas a aguardar a sentença de todos, e aceitarei o que vier.
Todos se entreolham, a coruja pousa nas costas do servo lá atrás do agrupamento e ambos se cochicham algumas palavras, e aos poucos vão abrindo caminho, pois muitos só tinham a agradecer-lhes, não só por avisarem do perigo como por serem ótimos amigos antigos da floresta com sabedoria admirável. O servo e a coruja a frente de todos, então dizem em mesma voz para o lobo ouvir: “Tudo muda no ciclo da vida, ela nasce e se renova menos nossos espíritos, que apenas conhecem o caminho do crescimento.” Com estas palavras, servo e coruja se retiram, um por terra e o outro pelo ar em seu vôo silencioso, os demais, apenas acompanham o servo e a coruja, poucos se aproximam do lobo a dar-lhe força e ânimo, mas o coro do servo e da coruja, e as pequenas e poucas manifestação de carinho que podes receber, foram suficientes para marcar sua vida de forma única a partir daquele momento.
Todos os animais começaram a ver o que podia ser feito para manterem-se vivos, e o lobo, com mais vontade ainda de ajudar, não deixou de continuar a estar presente com aqueles que considera já a um bom tempo a sua verdadeira família.
Esta simples história eu criei com base no que sinto no momento diante a circunstancias que fogem do meu controle e de meus sentimentos, ser bom, ter princípios, valores e virtudes, seguir ideais e querer a felicidade alheia sendo transparente e sincero sempre, não é nada fácil de se conseguir ser, não sou perfeito, e por isso mesmo, adoro e me amo pelo que sou, mesmo que as vezes, por estado de momento eu diga que preciso mudar em como agir e me comportar, porém me engano, em pensamentos que podem realmente vir a ajudar, ou a serem mais uma ilusão de quem sou verdadeiramente a pensar que poderei mudar algo mudando algumas pequenas atitudes ou modo de pensar, se certas mudanças melhoram algumas coisas, também trazem conseqüências colaterais indesejadas, e seria apenas mais um erro meu supor que mudando algo em mim poderia mudar o que o destino me reserva, pelo contrário, preciso mostrar-me forte diante a tudo e a todos, saber que não irei agradar a uns, mas que posso cumprir com meus desejos a manter outros felizes, errar não é só humano, lobos e tantos outros animais, na própria sobrevivência aprendem com seus pais como se alimentar, como caçar, como voar, como dar seus primeiros passos num mundo selvagem, e entre outros tantos ensinamentos, alguns só eles poderão aprender na vida, e para isso, riscos devem serem sempre bem vistos e encarados, pois sem ter a chance de errar, não saberemos a forma adequada de encontrar o que seria o certo de se fazer!
E devo confessar, que perto do final desta historinha que criei, por mais simples que seja, me emocionei, porque a fiz pelo que sentia, e resolvi me expressar através de uma história, e não por outra coisa como poesia ou um texto como este que estou a fazer agora. Só espero, que com aqueles que eu pisei na bola sem ter essa intenção, me perdoem, me perdoem por ser tão ingênuo e transparente, e por mais que eu sofra por dentro, irei evoluir sim, mas sem mudar na minha relação com o mundo exterior. No mundo real e virtual, há momentos e momentos, coisas ditas sem querer ou querendo, às vezes pesam como uma pedra atirada do próprio punho, causando uma marca difícil de ser removida depois por mais que tente, eu aprendi a perdoar muita coisa por conta própria, ignorar algumas coisas que poderiam me causar mal a minha essência e tirar minha paz, mas somos humanos, e diferente dos animais, somos mais sensíveis e teimosos também. Não podemos mudar os pensamentos e opinião alheia, mesmo que desejamos sermos perdoados, só nos resta também aceitar a conviver com a culpa de ter errado, seja uma ou algumas vezes com alguém que não queríamos a ver sofrer ou ser prejudicada, perder uma amizade, mas é preciso, com isso conviver e suportar, deixar-se fazer parte da bagagem de experiência que carregamos e pegamos a cada trecho de nossa jornada nesta vida passageira, nesta tempestade nebulosa, que cheia de segredos sombrios e outros esperançosos, ainda há de se revelar sobre nossas cabeças, e suas águas, serão como bombas de luz ou de escuridão, mas como toda tempestade, deixando feridas ou marcas, ela irá passar de qualquer forma, independente do tempo que perdure.